domingo, 23 de agosto de 2020

 Já li o livro todo mais de 1 vez, mas meu primeiro contato com Viajantes do Abismo, ou VdA como carinhosamente o chamo, foi um misto de encantamento e choque. Encantamento pela história incrível muito bem escrita, apaixonante e cheia de personagens bem elaborados e intensos. E choque, porque tudo que o livro narra poderia estar acontecendo, aqui na nossa cidade, com nossas famílias tamanha a semelhança com a vida real. Mergulhar nas páginas de VdA é mergulhar numa análise profunda e muito bem feita da alma humana e da capacidade que cada um de nós tem de reagir diante de situações de perigo extremo, onde as escolhas mais simples podem significar perdas insuperáveis. É muito, muito fácil nos identificarmos com a protagonista, Elissa, quando ela dá de cara com a vida sendo cruel e, ainda assim, entender cada atitude, cada escolha que ela faz. Também é impossível não nos identificarmos com cada um dos personagens que fazem parte do universo VdA, sem nos reconhecermos em suas atitudes, certezas, incertezas, medos e decisões. Por isso recomendo a leitura desse livro incrível para todos aqueles e todas aquelas que gostam de literaturas com personagens fortes, intensos, mas ao mesmo tempo possíveis de encontrar na fila do banco, na padaria, numa parada de ônibus, ou até mesmo numa situação que exija muito de cada um de nós, assim como exigiu de cada personagem dessa história.

 Como sou professora de Língua Portuguesa e de Literatura estou acostumada a ler e a usar muitos contos em minhas aulas, e já usei de tudo um pouco. 

Já trabalhei em aula, com meus alunos, contos de autores conhecidos, desconhecidos, usando a escrita como bons exemplos, como exemplos do que não se deve fazer ao nosso bom português, enfim, já perdi a conta, mas não lembro de ter lido um livro inteiro de contos sobre os quais quisesse comentar com minhas amigas, com colegas de profissão, que me despertasse a intenção de usar TODOS em minhas aulas e aproveitar como bons exemplos de como escrever. Verão no fim do mundo fez isso! Desde o primeiro conto até a última página acontece uma empatia intensa com os personagens e com suas histórias narradas, empatia que nos faz querer ser a vizinha, a amiga, a parente só para ter a oportunidade de, nem que seja por alguns segundos, mergulhar nas histórias e viver tudo aquilo sobre o que estamos lendo. 

Desde o primeiro até o último conto o que mais prende à leitura são, sem dúvida, os personagens e seus dramas. Não há nada nas entrelinhas das histórias do livro que não sejam atitudes comuns e até habituais de se ver por aí, já que todas as personagens narradas são verossímeis e possíveis. Não há pontas soltas e todos os enredos se fecham direitinho, embora haja muito espaço para nossa imaginação seguir narrando. 

Enfim, uma leitura gostosa, fluída, e que nos faz querer estar tanto na Reunião Dançante, curtindo o prazer do primeiro amor, quanto sentindo os aromas e sons entrando pelas frestas do apartamento às margens do Sena em Paris, tão concretamente narrados no conto O rio pela janela. Um livro para se ler como se estivesse fazendo um detox mental, uma fuga da realidade lendo sobre a realidade.