Hoje pela manhã, vindo de trem para o trabalho, ouvi uma
conversa que era mais ou menos assim:
- A Fulaninha e o Fulaninho foram para a escola, hoje,
fantasiados de monstrinhos. Ficaram umas gracinhas, mas não sei pra que as
profes inventam isso.
- Verdade, meu! Acho ridículo ficarem comemorando “festa das
bruxas” quando isso nem faz parte da nossa história, do nosso povo. Vão
aprender a ser peão e prenda e dançar chula que vale mais. Até sambar um
carnaval tá valendo. Agora, vir dar uma de metida a cultura americana, não dá,
né? Pouca vergonha achar que dá pra adotar costume americano e que todo mundo
vai engolir.
- Falou bem certinho. Também acho, mas mudando de assunto,
já decidiram onde vai ser comemorado o aniversário do Ciclano?
- Tinha uns quatro lugares e pra não dar briga fizeram
votação. Vai ser no Mac da Doutor Flores mesmo. Pertinho do escritório e tem
como reservar os lugares. Melhor assim, né? Ninguém briga nem chega atrasado ao
trabalho para o turno da tarde. “
Ponto final, pois meus ouvidos começaram a zunir e a parte
de mim que não é sociável nem domesticada começou a tentar sair pela garganta.
Pensando bem, nem sei se saberia responder a tantas bobagens juntas sem passar
algumas horas dando de dedo em tanta xenofobia mal estruturada.
Fiquei pensando nisso a manhã toda e, agora à tarde, ao dar
uma xeretada no Facebook vi um post que adorei (e já compartilhei), falando
exatamente sobre aqueles que acham que Papai Noel nasceu no Brasil, e que o
Coelhinho da Páscoa, antes de virar adulto, se exercitava nos pagos do Rio
Grande do Sul.
Aos que torcem o nariz para o Halloween dizendo que isso não
faz parte da nossa (leia a palavra "nossa" como se estivesse falando
com a boca cheia) cultura, sinto dizer, mas há controvérsias. Se formos levar essas
comemorações ao pé da letra teríamos outras festas ditas daqui que não deveriam
existir, sendo que vieram com imigrantes de todas as partes do planeta,
portanto faziam parte de todas as outras partes do planeta. Sendo assim, teríamos
que inventar o Dia do Curupira, Dia da Mula-sem-cabeça, Dia do
Boto-cor-de-rosa, entre outros, se quiséssemos comemorar algo nascido exclusivamente
aqui (em alguns casos, considerando a opinião das tribos indígenas que lhes
deram origem, não esqueçam).
E é por isso que reafirmo: Eu amo ser brasileira e ter a
mistura de crenças, raças, cores, cheiros e sabores que meu país tem. E eu amo comemorar
o Halloween, que, das festas pagãs, para mim, essa é a mais
"fantasticulosa"! E vou continuar amando comemorar o Natal também,
por tudo o que ele representa no meu fim de ano. E vou continuar não gostando
de carnaval pela aglomeração e o calor (é no verão, né?), exceto pelo feriado que ele proporciona. E vou continuar achando
motivo para meus dias serem mais felizes e divertidos, pois de sério e difícil,
já me basta assistir os telejornais na TV.
Bom Halloween para você também!