Este texto constitui-se no relato de experiências pedagógicas desenvolvidas nos Saraus Culturais, realizados nos últimos sete anos no Programa de formação de Jovens Aprendizes na Escola Técnica José César de Mesquita. Estes eventos ocorrem durante o período teórico e compreendem as mais diversas expressões artísticas como poesia, dança, música, teatro, fotografia a partir das escolhas dos jovens.
Saraus são ferramentas potentes de reflexão e se constituem como um processo de integração destes jovens acerca de suas visões de mundo, incluindo os temas trabalhados pelos Educadores. Tem como objetivo motivá-los a expressar e trabalhar suas subjetividades de diferentes modos, bem como desenvolve um processo de construção de sínteses sobre vivências expressas em forma de arte, que possibilitam visibilidade a variados “discursos”, dando vazão às angústias advindas do cotidiano e anseios de ser sujeito em primeira pessoa, sendo “discursos” compreendidos na perspectiva que sugere uma noção mais ampliada de comunicação através da arte.
Percebemos o Sarau como referência artística e política orientada para a contestação dos marcos de exclusão impostos às periferias e aos processos de violência interpessoal que são manifestadas, muitas vezes, dentro de casa a partir daqueles que, supostamente, deveriam ser o “porto seguro” e representar proteção. Os saraus realizados na Escola proporcionam um espaço democrático de aprendizado, socialização e descoberta de talentos, sendo um ato de resistência frente ao mundo cada vez mais tecnológico. Os saraus são oportunidades de mostrar habilidades que, em outras circunstâncias, provavelmente, tais jovens não ousariam por timidez.
O resultado destes encontros é percebido através do aumento da autoestima, do respeito próprio, da confiança, da solidariedade quando estes jovens demonstram outras formas de resistência e muitas vezes se descobrem artistas que não pensavam ser, além disso permitindo democraticamente inclusão e aceitação coletiva de diferentes manifestações artísticas. O Sarau provoca união, é um lugar de encontros entre o velho e o novo, o moderno e o antigo, compartilhados através das vivências coletivas. Isto faz com que a prática do Sarau abra suas portas para o protagonismo de todos os educandos, tanto dos envolvidos nas demonstrações, quanto aos que se propõem a apenas “apreciar o espetáculo”. E é nas apreciações e no “botar a mão na massa” que a arte deixa de ser abstrata e intangível para se tornar palpável e adquire a culturalidade dos envolvidos no seu processo de criação e compartilhamento.
Assim, a arte, enquanto narrativa e processo de reflexão do cotidiano proporciona rupturas com os modos tradicionais de comunicação, uma vez que provoca a juventude a imprimir “sua marca”. Através da socialização do que é arte para cada um que se percebe o processo de criação coletiva e ao mesmo tempo pessoal. É se reconhecer fazendo parte de algo que proporciona um ato de pertencimento ao coletivo, ao resultado final obtido.
Equipe Pedagógica da Escola Técnica José César de Mesquita - Porto Alegre / RS**
*Artigo publicado na Revista Aprendiz, ano 4, número 4, junho/2018, página 35.
**Angelita Martins, Bárbara Farias, Claudete Souza, Elen Tavares, Janaína Kleinkauf, Joacir Pesente, Marcelo Cavasotto, Marina Andrade, Paulo Thomassim, Rochele Boneti, Vitor Brasil, Wagner Moura.


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