Agnus
Dei – A idade do sangue
A leitura de Agnus Dei foi uma leitura-refresco, um presente
com boas surpresas, mas destaco três, que considero as melhores.
Em primeiro lugar tive o encantamento visual, provocado
pela encadernação do livro em si. Para um livro escrito por uma fã de RPG, nada
mais óbvio que sua encadernação seja, no mínimo, diferente. Pois Agnus Dei vai
além disso. O livro é lindo! A capa é uma união de cores e imagens que provocam
os sentidos e as páginas internas são estampadas com a reprodução de um céu nublado
e tempestuoso, combinando perfeitamente com o tom da história que se lê. Nota
10 para o criador disso.
A segunda coisa foi o trabalho editorial com o enredo e
sua autora. Uma das maiores broncas de quem faz análises e resenhas de obras é
a pouca importância que algumas editoras demonstram com o trabalho dos
revisores, largando no mercado obras que beiram a irresponsabilidade com a
língua portuguesa e o mínimo de regras necessárias para que um texto escrito em
português seja entendido em bom português. Dá-se tão pouca importância para
isso, que até assusta. Não é esse o caso de Agnus Dei. O livro, apesar de ter
algumas falhas de revisão que não comprometem a leitura, encontra-se no nível
que se espera de um livro que será consumido por pessoas de todas as idades e
que querem entender o que estão lendo. Há algumas gírias e regionalismos, sim, mas
nada que comprometa o entendimento nem o andamento da história.
A terceira coisa é meu encantamento com a história lida.
Bom Merlin, como é gostoso ler um livro que nos deixa a vontade de ler mais! O
livro é ótimo, a história é ótima e o devorei durante o trajeto de casa para o
trabalho e vice-versa, dentro de trens e ônibus. E isso é um fato a ser levado
muito em consideração se esclarecer que o dia, infelizmente, anda extremamente
curto tal qual a maioria da população que trabalha em educação e se encontre em
finais de semestres. Isso foi o que me deu a certeza de que a história era boa,
pois não eu não sentia vontade de largá-lo nem de “voltar ao mundo real” quando
precisava. Sentia, pelo contrário, uma imensa vontade de encontrar um relógio
‘com mais horas’ do que o que eu costumo usar diariamente, só para ter mais
tempo para continuar lendo.
E é exatamente sobre a história que me encantou que
pretendo falar mais. Julianna, a autora tece uma trama, simples até, mas muito
bem elaborada. Não faltam elementos de tensão e que tornam coesa sua narrativa,
fazendo com que finalizar capítulo não signifique, necessariamente, uma pausa para
o cafezinho. Pelo contrário, cada final de capítulo conta com um elemento
inconclusivo, que fica no ar e que provoca a ida para o próximo de forma quase
que instintiva. Tal como um vampiro buscando satisfazer suas necessidades mais
básicas.
Desde a protagonista, que é o que se espera de uma heroína onde os clichês até podem
existir, mas são ignorados quando ela surpreende já na próxima atitude, até sua
postura em se manter o mais leal possível aos seus princípios, sem abrir mão da
sobrevivência. Adorei a Julie. Ela é real, plausível e pode ser qualquer uma de
nós, mulheres que amamos, trabalhamos, sonhamos e vivemos neste mundo maluco. Isso,
em minha opinião, é o que mais encanta nela. Não há nenhum elemento de drama ou
sofrimento quando ela encara as coisas que a vida lhe dá, não há atitudes depressivas
ou arrependimentos por ter que passar a viver de uma forma diferente do que
havia sido até então, não há qualquer tipo de pudor deslocado ou vergonha (tipicamente
machista, diga-se), quando ela se depara com os novos sentidos e desejos que
surgem e que passam a fazer parte de sua nova vida. Julie é o que chamamos de pessoa bem resolvida e desencanada. E ponto. Tudo o que vem
após isso só acresce mais qualidades às que já existiam, mesmo que não citadas.
Aliás, no quesito personagens femininos pontos para
Julianna, novamente. São duas mulheres protagonistas muito bem narradas. Ambas
são seguras em suas inseguranças e ambas sabem muito bem onde querem chegar,
mesmo quando não sabem nem onde estão.
Com relação aos personagens masculinos, não vou mentir
que meu favorito foi, é e será Lucas. Ele é a antítese do macho bombado e
protetor, que está ali para proteger a mocinha indefesa e dar-lhe prazer. Pelo
contrário. Ele seria o nerd esquecido e ignorado por 9 entre 10 adolescentes de
hoje em dia por não ser ‘descolado’. Em compensação, o personagem é o que se
espera de melhor num ser humano, por ser totalmente humano. Ele não está preocupado em parecer o melhor ou querer ser o
melhor. Ele só está preocupado em dar o melhor de si e fazer feliz os poucos que
restaram que lhe são importantes. E para ele isso basta. Isso é o que o torna
melhor de todos. Comparado com o diabolicamente sedutor Maasi, ou com o
homem-perfeição Jason, ele é uma lufada de ar puro que passa e acalma. Verossímil
por ser parecido com aquele amigo tal, chamado fulano de tal que qualquer um de
nós têm.
Para finalizar, as caracterizações e brigas entre as
organizações que querem “salvar o mundo”, mas que estão pendendo mais para o salvarem-se umas das outras, foram bem
construídas. Tanto o histórico de ambas, quanto o desenrolar de suas ações são
o que se poderia chamar de viáveis e críveis, se considerarmos que fazem parte
de um mundo novo e desconhecido por nós, até então. Gostei do “era uma vez” da
Agnus Dei, gostei tanto quanto ou mais ainda do “era uma vez” da Asset.
Impossível analisar tudo o que há para ser lido no livro.
Há tantas situações e coisas neste novo mundo narrado, que acabam por serem
impossíveis de serem lembradas totalmente, mas isso se torna um benefício se
considerarmos a quantidade de páginas que seriam necessárias para escrever
sobre tudo.
Espero, sinceramente, que mais leitores descubram A ordem
de Asset, a Agnus Dei, Julie, Lucas, Theresa, Maasi e todos os outros
personagens. Espero que mais leitores gostem desse conto fantástico, que
devolve aos vampiros suas melhores características (sedutores, dualistas, sedutores,
sanguinários, sedutores, manipuladores e... já falei sedutores?). Capacidade
para encantar leitores a obra tem.
Agora um pedido e um agradecimento: um pedido para que a
continuação não demore muito para vir, pois quero voltar para o mundo da Asset
e saber o que vai acontecer com alguns dos personagens que me encantaram. E o
agradecimento: Obrigada, Julianna, por permitir que os vampiros de sua obra sejam
vampiros. Os fãs do gênero, tal como eu, agradecem!

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