segunda-feira, 25 de março de 2013


Agnus Dei – A idade do sangue

A leitura de Agnus Dei foi uma leitura-refresco, um presente com boas surpresas, mas destaco três, que considero as melhores.
Em primeiro lugar tive o encantamento visual, provocado pela encadernação do livro em si. Para um livro escrito por uma fã de RPG, nada mais óbvio que sua encadernação seja, no mínimo, diferente. Pois Agnus Dei vai além disso. O livro é lindo! A capa é uma união de cores e imagens que provocam os sentidos e as páginas internas são estampadas com a reprodução de um céu nublado e tempestuoso, combinando perfeitamente com o tom da história que se lê. Nota 10 para o criador disso.
A segunda coisa foi o trabalho editorial com o enredo e sua autora. Uma das maiores broncas de quem faz análises e resenhas de obras é a pouca importância que algumas editoras demonstram com o trabalho dos revisores, largando no mercado obras que beiram a irresponsabilidade com a língua portuguesa e o mínimo de regras necessárias para que um texto escrito em português seja entendido em bom português. Dá-se tão pouca importância para isso, que até assusta. Não é esse o caso de Agnus Dei. O livro, apesar de ter algumas falhas de revisão que não comprometem a leitura, encontra-se no nível que se espera de um livro que será consumido por pessoas de todas as idades e que querem entender o que estão lendo.  Há algumas gírias e regionalismos, sim, mas nada que comprometa o entendimento nem o andamento da história.
A terceira coisa é meu encantamento com a história lida. Bom Merlin, como é gostoso ler um livro que nos deixa a vontade de ler mais! O livro é ótimo, a história é ótima e o devorei durante o trajeto de casa para o trabalho e vice-versa, dentro de trens e ônibus. E isso é um fato a ser levado muito em consideração se esclarecer que o dia, infelizmente, anda extremamente curto tal qual a maioria da população que trabalha em educação e se encontre em finais de semestres. Isso foi o que me deu a certeza de que a história era boa, pois não eu não sentia vontade de largá-lo nem de “voltar ao mundo real” quando precisava. Sentia, pelo contrário, uma imensa vontade de encontrar um relógio ‘com mais horas’ do que o que eu costumo usar diariamente, só para ter mais tempo para continuar lendo.
E é exatamente sobre a história que me encantou que pretendo falar mais. Julianna, a autora tece uma trama, simples até, mas muito bem elaborada. Não faltam elementos de tensão e que tornam coesa sua narrativa, fazendo com que finalizar capítulo não signifique, necessariamente, uma pausa para o cafezinho. Pelo contrário, cada final de capítulo conta com um elemento inconclusivo, que fica no ar e que provoca a ida para o próximo de forma quase que instintiva. Tal como um vampiro buscando satisfazer suas necessidades mais básicas.
Desde a protagonista, que é o que se espera de uma heroína onde os clichês até podem existir, mas são ignorados quando ela surpreende já na próxima atitude, até sua postura em se manter o mais leal possível aos seus princípios, sem abrir mão da sobrevivência. Adorei a Julie. Ela é real, plausível e pode ser qualquer uma de nós, mulheres que amamos, trabalhamos, sonhamos e vivemos neste mundo maluco. Isso, em minha opinião, é o que mais encanta nela. Não há nenhum elemento de drama ou sofrimento quando ela encara as coisas que a vida lhe dá, não há atitudes depressivas ou arrependimentos por ter que passar a viver de uma forma diferente do que havia sido até então, não há qualquer tipo de pudor deslocado ou vergonha (tipicamente machista, diga-se), quando ela se depara com os novos sentidos e desejos que surgem e que passam a fazer parte de sua nova vida. Julie é o que chamamos de pessoa bem resolvida e desencanada. E ponto. Tudo o que vem após isso só acresce mais qualidades às que já existiam, mesmo que não citadas.
Aliás, no quesito personagens femininos pontos para Julianna, novamente. São duas mulheres protagonistas muito bem narradas. Ambas são seguras em suas inseguranças e ambas sabem muito bem onde querem chegar, mesmo quando não sabem nem onde estão.
Com relação aos personagens masculinos, não vou mentir que meu favorito foi, é e será Lucas. Ele é a antítese do macho bombado e protetor, que está ali para proteger a mocinha indefesa e dar-lhe prazer. Pelo contrário. Ele seria o nerd esquecido e ignorado por 9 entre 10 adolescentes de hoje em dia por não ser ‘descolado’. Em compensação, o personagem é o que se espera de melhor num ser humano, por ser totalmente humano. Ele não está preocupado em parecer o melhor ou querer ser o melhor. Ele só está preocupado em dar o melhor de si e fazer feliz os poucos que restaram que lhe são importantes. E para ele isso basta. Isso é o que o torna melhor de todos. Comparado com o diabolicamente sedutor Maasi, ou com o homem-perfeição Jason, ele é uma lufada de ar puro que passa e acalma. Verossímil por ser parecido com aquele amigo tal, chamado fulano de tal que qualquer um de nós têm.
Para finalizar, as caracterizações e brigas entre as organizações que querem “salvar o mundo”, mas que estão pendendo mais para o salvarem-se umas das outras, foram bem construídas. Tanto o histórico de ambas, quanto o desenrolar de suas ações são o que se poderia chamar de viáveis e críveis, se considerarmos que fazem parte de um mundo novo e desconhecido por nós, até então. Gostei do “era uma vez” da Agnus Dei, gostei tanto quanto ou mais ainda do “era uma vez” da Asset.
Impossível analisar tudo o que há para ser lido no livro. Há tantas situações e coisas neste novo mundo narrado, que acabam por serem impossíveis de serem lembradas totalmente, mas isso se torna um benefício se considerarmos a quantidade de páginas que seriam necessárias para escrever sobre tudo.
Espero, sinceramente, que mais leitores descubram A ordem de Asset, a Agnus Dei, Julie, Lucas, Theresa, Maasi e todos os outros personagens. Espero que mais leitores gostem desse conto fantástico, que devolve aos vampiros suas melhores características (sedutores, dualistas, sedutores, sanguinários, sedutores, manipuladores e... já falei sedutores?). Capacidade para encantar leitores a obra tem.
Agora um pedido e um agradecimento: um pedido para que a continuação não demore muito para vir, pois quero voltar para o mundo da Asset e saber o que vai acontecer com alguns dos personagens que me encantaram. E o agradecimento: Obrigada, Julianna, por permitir que os vampiros de sua obra sejam vampiros. Os fãs do gênero, tal como eu, agradecem!


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